Entreguei-me à preguiça de sentir com as mãos. Quando não, prefiro amarrá-las a fazê-las confessar o que não querem sentir. Amargo essa incompletude como se, dela, não me pudesse livrar, mas o silêncio é voluntário. Só vontade esmaecida.
Cumprir meu egoísmo se tornou um fardo, pois agora sinto com dois corações. Hesito diante da caneta covardemente, como se fugisse de um mal. Desprezo a mais fiel companheira por mera indolência, inventando essa indiferença quando, de fato, meu mundo é tormenta e vida. Não sinto mais à flor da pele apenas; ela agora se distende a cada dia, se esgarça me trazendo aos olhos o vivo núcleo de tudo o que sinto. E tão repleto ele é que abandonei as letras…
Já não é mais à caneta que consagro gracejos, empresto carinhos, sussurro segredos; não.
À caneta devoto apatia. Ofereço apenas minha negligência, meu desleixo, meu desânimo.
Talvez amar assim me esvazie.