MARCELA GODOY


Mar 8, 2009

O PRIMEIRO RELATO DA QUEDA DE UM DEMÔNIO

Os "Guardiões do Mito do Homem" são a mais importante horda do Inferno. Os únicos, entre todos os demônios do abismo, dotados do alento humano, pois são fruto de um pacto feito entre Lúcifer e Caim, quando estes decidiram unir forças para vingarem-se de Deus e do Homem. Tal vingança concretizou-se com a criação de duas raças distintas, a raça dos "Guardiões do Mito do Homem" (os demônios, descendentes de Lúcifer) e a raça dos Patronos (os homens eternos, descendentes de Caim). A missão destes demônios é unicamente proteger a raça de homens eternos a quem Caim deu origem (por intermédio deste pacto que firmou com Lúcifer), ao passo que a missão dos Patronos é levar ao Homem a dor infligida por Deus a Caim.

OS PERSONAGENS

Azael é um dos "Guardiões do Mito do Homem" e sua missão é proteger seu mestre Lucien, um rico artesão da Moldávia, nascido no ano de 1156, que se vê desesperado em busca de uma cura para o mal que arrebatava a vida de sua esposa Jaqueline. Certo de que ao beber do sangue dos descendentes de Caim ele poderia evitar a morte de sua esposa, Lucien entrega-se a esta Ordem, mas ela morre antes que ele pudesse salvá-la.

Assim, Lucien renuncia ao dom que recebeu e é punido com a chamada "Morte Eterna". Alguns anos depois, movido pela vontade crescente de afastar-se cada vez mais daquele passado de tristezas, Lucien deixa a Moldávia e muda-se para Castela, pois desejava muito conhecer o tão falado Novo Mundo descoberto por Colombo. Miriam é uma jovem cortesã, uma mulher belíssima e muito inteligente que encontra entre os inquisidores da corte de Isabel de Castela a sua clientela.

Um destes inquisidores, Glauco, é completamente apaixonado por ela e acaba, por meio de sua crueldade e manipulação, fazendo com que Miriam se torne uma "exclusividade" sua. Suas constantes ameaças asseguram-lhe o caráter de "dono" desta mulher e ela não lhe recusa os caprichos, embora não tenha receio de esconder a repulsa que sente em ser sua escrava.

A HISTÓRIA

O ano é 1498. Lucien e Miriam são apresentados e uma súbita e arrebatadora paixão nasce entre os dois. Após vencerem uma série de obstáculos para conseguirem viver este amor, Lucien e Miriam se casam. Tendo acompanhado por séculos a solidão de Lucien, Azael vê-se de repente curioso pela súbita paixão de seu mestre por aquela cortesã que levou Lucien a esquecer a antiga esposa! Contudo, para que pudesse entender a natureza daquele amor, Azael precisaria antes compreender sua própria natureza e sua queda tem início no momento em que ele se dá conta do quão vazia era sua existência.


O PRIMEIRO RELATO DA QUEDA DE UM DEMÔNIO é, essencialmente, a história da busca pelo Homem vivida por um demônio, então, incapaz de ter sentimentos neste livro cheio de paixão e tragédia que marca a estréia da talentosa escritora Marcela Godoy.

As belíssimas ilustrações internas do livro foram feitas pelo inspiradíssimo Marcelo Campos, ilustrador e desenhista de quadrinhos conhecido internacionalmente.

ONDE COMPRAR:

Sob pedido: Saraiva, Siciliano, Fnac, Cultura

Pronta entrega: Devir, Terra Média

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O primeiro relato da queda de um demônio

(segundo Marido)

Há muito, muito tempo, quando a união dos continentes ainda formava um enorme waffle flutuante chamado Pangea, havia na região que hoje chamamos América do Sul um belo jardim chamado Éden*. Um lindo querubim caminhava sobre pedras preciosas entre as árvores frondosas daquele oásis. Ele estava muito orgulhoso de si mesmo, pois há pouco havia se emancipado e adquirido sua independência financeira. Seu nome era Lúcifer e se ocupava em realizar palestras sobre auto-ajuda, nas quais discursava acerca de seus temas favoritos: "Como construir seu trono sobre as estrelas", "Seja uma divindade em 666 horas" e "Tenho potencial para ser o Chefe". Luci (como era chamado Lúcifer pelos amigos íntimos, principalmente o jocoso Azazel) trabalhava também na compilação de seus ensinamentos na forma de livro, mas sofria com as interferências de seu editor, que considerava ser o próprio diabo. Enquanto vagueava pelo jardim divagando em pensamentos de grandeza e feliz pela invenção de seu mais novo método para encarnação em serpente, Lulu (como era chamado Lúcifer pelos amigos íntimos, principalmente o jocoso Azazel) não observou que havia no chão, entre um topázio e um jaspe, uma casca de banana lançada ali por um ser chamado Adão que acabara de fazer uma grande besteira ao subir na bananeira e comer desse fruto num ‘paraíso tropical’ . Andando com suas asas recolhidas de forma desavizada e imprudente numa dimensão sujeita à gravidade, Lu (como era chamado Lúcifer pelos amigos íntimos, principalmente o jocoso Azazel) escorregou no que sobrou do fruto proibido e sofreu uma queda patética, estatelando a testa no chão e gerando dois galos enormes na fronte que mais pareciam chifres. A ‘terça parte’ dos anjos que observava tudo de um local privilegiado, caiu de rir. O homem, que após seu ato de desobediência estava sujeito à morte, morreu de rir. A mulher que havia primeiro provado a banana, sentiu dores de parto de tanto rir. A serpente que acabara de perder seus braços e pernas e andava em zigue-zague, se contorcendo devido a uma hemorróida que não tinha meios para coçar, exclamou em meio às gargalhadas: - Esse filho da puta bem merecia isso depois de me colocar nessa fria! Coce meu cu com esse tridente, bastardo, hahahahahahahaha!

O querubim se levantou e bateu a poeira de sua roupa escarlate. Ajeitou sua linda cabeleira. Levantou seu habitual olhar imponente e esnobe. Olhou para todos com a impáfia de um leão que observa hienas ensandecidas e murmurou: - Esse paraíso precisa de um choque de gestão.

Isso é tudo o que sei sobre o primeiro relato da queda de um demônio.

* Teólogos yankees acreditam que o tal jardim, também conhecido como Paraíso, se localiza na região da Mesopotâmia, no Oriente Médio. Tal crença originou uma recente cruzada em busca das riquezas do Éden, inundando de hordas ocidentais o território entre o Tigre e o Eufrates. Segundo a cabeça de um empresário americano que foi separada do corpo durante essa empreitada, embora exista no local muito conhecimento sobre o bem e o mal, algumas serpentes peçonhentas, muitos frutos proibidos, espadas flamejantes, alguns animais ainda não nomeados pelo homem e sujeitos nus sendo surrados por uma série de diabos, nada disso faz esse Éden se parecer com o paraíso narrado no Gênesis de Moisés. Obviamente, pura precipitação de uma cabeça decepada que no momento em que conheceu o fio da espada ainda não sabia que o barril de fruto proibido já havia passado dos 50 dólares.